Com vários itens revisados, pensamos em
fazer os primeiros testes de estrada com a Belina. Não que ela não havia estado
nas estradas depois que a adquirimos, afinal a Rodovia Raposo Tavares fica a
500 metros de nossa casa e já rodamos alguns quilômetros em testes a cada
sistema que íamos renovando, mas achamos que já era hora de saber como ela se
comportaria durante algumas centenas de quilômetros ininterruptos.
Sabíamos que apesar de sua melhor
forma, ela ainda tinha uma suspensão cansada e pneus para lá de desgastados e
com medidas diferentes entre eles.
Partimos para uma avaliação dos
componentes mais comprometidos da suspensão e concluímos que os grandes
causadores dos barulhos e imprecisão no controle direcional eram as bieletas e
buchas de apoio da barra estabilizadora dianteira, itens que tínhamos em estoque
e de rápida substituição.
O estado do par de bieletas que saiu da
Belina era deplorável, com as borrachas quase que inexistentes. E o pior de
tudo: uma delas apresentava sua haste na eminência de um rompimento provocado
por uma instalação mal feita. O par foi direto para o acervo de “peças pé na
cova”, que exibimos durante nossos cursos.
Com relação aos pneus, tomamos
emprestado o conjunto completo, incluindo as rodas de nosso Del Rey, que
permaneceria parado durante este período de testes. Vantagens de se possuir
dois carros da mesma família.
A missão da Belina seria uma pequena
viagem até Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, distante 200 km da capital.
Como de costume, fizemos uma parada em
um agradável ponto da Rodovia dos Tamoios, na cidade de Paraibuna, que reproduz
o agradável ambiente de uma fazenda, com amplo espaço e repleto de animais. Um
ótimo lugar para espairecer, esticar as pernas e tomar um café.
Poucos quilômetros de estrada depois e
quase chegando à serra, um verdadeiro dilúvio que nos acompanhou até a chegada
de Caraguatatuba, colocando à prova as qualidades de dirigibilidade,
visibilidade e de vedação da Belina, que passou com louvor, quase nos fazendo
esquecer que ainda havia muito o que melhorar em sua suspensão.
Poucos quilômetros adiante, já em São
Sebastião, o sol nos brindou mais uma vez e assim embarcamos no ferryboat que
faz a travessia até Ilhabela, sem filas e em primeiro lugar, vendo a Ilha se
aproximar de dentro da Belina.
Aprovado com louvor em todo o caminho
de ida, nosso bólido ficou estacionado no quintal de casa, esperando pelos
próximos dias.
Na Ilha, pouco rodamos com a Belina,
tudo é muito perto e a maior prova que ela passou foram as partidas sem
hesitação, comprovando a eficiência de seus sistemas de ignição e alimentação.
Além de passarmos alguns dias de
descanso na Ilha, nossa missão seriafazer a observação de seu comportamento e
relatar em vídeos os sistemas revisados em nossos cursos. Estes vídeos seriam
postados nos respectivos grupos de alunos sob os temas: freios, alimentação,
direção, ignição, etc.
Todos eles em ambientes muito
descontraídos, como a Praia da Pedra do Sino, que foi escolhida para relatarmos
o comportamento dos novos componentes da ignição da Belina, mas também para
relembrar conceitos discutidos durante o curso, como os efeitos da pressão
atmosférica em regiões litorâneas sobre o comportamento do automóvel.
Uma grande questão é como a Belina se
comportará na subida da serra da rodovia dos Tamoios em dias tão quentes quanto
os que estamos tendo.
Como tudo que é bom termina logo,
chegou o dia de voltar e decidimos que iríamos almoçar na estrada, portanto não
havia necessidade de sairmos tão cedo, assim pegamos a balsa das 10h, com
direito a uma parada em São Sebastião para uma visita à nossa livraria de
costume. Quando íamos saindo com a Belina do estacionamento, um sujeito se
aproximou pedindo para ajudarmos ele a fazer funcionar seu carro, um Santana
Quantum.
O sujeito era um funcionário da
prefeitura e havia esquecido os faróis do carro ligados durante algumas horas
que consequentemente teve a bateria descarregada.
O curioso é que havia vários carros
estacionados no mesmo local, todos muito mais novos do que a Belina e
justamente foi a nós que ele recorreu, certamente por este único motivo. A
impressão que tivemos é que ele ficou esperando o dono do carro contemporâneo
ao dele.
Prontamente direcionamos a Belina com o
cofre do motor o mais próximo possível e com os cabos de partida auxiliar,
fizemos rapidamente o motor da Quantum funcionar.
Foi uma velha perua auxiliando a outra.
Após o funcionamento da Quantum,
tomamos o rumo de São Paulo pela Rio/Santos em direção da rodovia dos Tamoios.
O combustível que restava no tanque, teoricamente seria suficiente para
chegarmos à nossa casa, mas como ainda não tínhamos a total certeza da
autonomia da Belina, resolvi completar o tanque ainda em São Sebastião.
Tanque cheio, calculadora (quer dizer,
celular) à mão e a média acusou bons 9,4 Km/l. Considerando o carro ser a
álcool e termos rodado alguns quilômetros dentro da Ilha, ficamos contentes com
o resultado.
Agora sim, seguros e abastecidos,
seguimos pela Rio/Santos.
Atenção redobrada nas curvas, uma vez a
suspensão ainda precisava ter muitos dos componentes substituídos, mas longe de
uma situação de perigo eminente a Belina bravamente encarava a estrada,
prematuramente com o asfalto desgastado pelo pouco tempo da ampliação de suas
vias.
A subida da serra, pela rodovia dos
Tamoios ou mesmo por outra estrada, sempre é um teste para qualquer carro,
especialmente para os mais velhinhos como a Belina.
O maior risco, geralmente é o
super-aquecimento, mas felizmente ficamos bem longe dele, com o ponteiro do
termômetro com uma margem bem grande de uma marcação preocupante.
Para não dizer que a subida foi impecável
para a velha perua, algumas pequenas falhas na rotação do motor surgiram uma
vez ou outra, quando a rodovia ficava mais íngreme. Problema facilmente
resolvido com uma providencial reduzida de marcha e consequente elevação da
rotação do motor. Longe de nos preocupar, mas uma questão a ser resolvida.
A parada foi feita na hora do almoço,
já no topo da serra e em outro restaurante de costume, onde dois suculentos
bifes de filé mignon, acompanhados de batatas, arroz e salada foram devorados
pelo casal.
Com os tanques cheios (carro, condutor
e passageira), retomamos ao gostoso e digestivo ritmo da viagem, que duraria
mais duas horas e meia até a entrada da cidade de São Paulo, que nos receberia
com uma nova chuva torrencial para tirar a poeira dos dezesseis dias de
viagem.
Curiosos para saber como seria o
funcionamento de todo o conjunto mecânico da Belina, agora em maiores
altitudes, poucos dias depois da chegada de Ilhabela programamos uma nova viagem
com destino ao Pico do Itapeva, no município de Pindamonhangaba.
Com altitude de 2.030 metros com
relação ao nível do mar, a porta de entrada para o Pico do Itapeva, é a cidade
de Campos do Jordão, conhecida como a Suíça Brasileira.
Foram muitas as vezes que estivemos em
Campos do Jordão, tanto em viagens de bate e volta, como nas de vários dias de
férias.
Foi subindo ao do Pico do Itapeva que
avaliamos e aprovamos nosso Del Rey para as duas travessias da Cordilheira dos
Andes que fizemos a alguns anos.
Agora com o propósito exclusivo de
avaliarmos o carro, eu e o Rapha saímos bem cedo de SP para uma viagem de bate
e volta, seguindo a direção da Serra da Mantiqueira, onde fica Campos do
Jordão.
Em função da pandemia, todos os
estabelecimentos estavam fechados, assim como depois veríamos os pontos
comerciais e turísticos de Campos do Jordão.
O clima ameno nos deu uma folga para o
calor intenso dos dias anteriores em Ilhabela e São Paulo. Enquanto mais
subíamos, mais fresco ficava o tempo.
Só na entrada de Campos do Jordão a
1.800 m.de altitude encontramos um posto de combustível com sua loja de
conveniência aberta, fizemos uma rápida parada e em seguida atravessamos a
cidade até a Vila de Jaguaribe, onde saímos da avenida principal a caminho do
Pico em um trajeto de mais 15 Km e outros 230 metros de altitude, totalizando
os 2.030 metros acima do nível do mar.
Desde de 2014 a exploração do Pico do
Itapeva privatizou-se através do estabelecimento de um parque que resume-se a
uma plantação de lavanda, um café e obviamente o mirante que permite a vista de
até 15 cidades do Vale do Paraíba, quando o tempo está bem aberto.
Havia dois motivos para no dia que
estivemos lá o parque estar fechado, ser uma segunda-feira e o período de
pandemia.
Ainda que estivesse aberto, não
entraríamos, afinal nosso objetivo era avaliar o carro em altitude, além do que
já havíamos estado inúmeras vezes naquele lugar, na época em que o acesso ao
mirante era público, portanto passamos direto pelos portões e seguimos em
frente na estrada, onde paramos por alguns instantes para admirar a vista que
dentro do parque agora era feita mediante pagamento de uma taxa. Continuamos em
frente por mais alguns metros até o antigo estacionamento que antigamente era
rodeado de barraquinhas de ambulantes e que agora só dava acesso restrito à
área de antenas de transmissão de rádio.
No estacionamento vazio, aproveitamos
para gravar os vídeos descrevendo o comportamento dos sistemas de ignição,
direção, exaustão e alimentação, que seriam enviados aos nossos alunos em uma
espécie de aula à distância.
Permanecemos nesta atividade por mais
ou menos uma hora e iniciamos a descida até Campos do Jordão.
Foi sem dúvida a passagem mais rápida
que fizemos por esta agradável cidade, nem tanto pela nossa pressa, mas porque
tudo estava fechado em função da fase vermelha da pandemia.
Atravessamos as vilas de Capivari,
Jaguaribe e Abernéssia através da avenida principal, passamos pelo portal da
cidade e começamos a descer a serra da Mantiqueira, momento ideal para gravar
um novo vídeo a respeito do comportamento dos freios para nossos alunos.
Já na rodovia Carvalho Pinto, fizemos
uma pequena parada para um lanche e com mais uma centena de quilômetros
estaríamos passando pelo bairro de Itaquera, de onde trouxemos a Belina um ano
antes. Neste dia da compra, o trajeto de 50 km's até nossa casa só não foi mais
tenso porque o Rapha vinha logo atrás com o arsenal de peças e ferramentas que
trazia em outro carro.
Hoje, passamos com este carro por este
mesmo ponto, na certeza de que ele é capaz de cumprir muitos quilômetros com o
funcionamento perfeito, apesar de reconhecer que ainda há muito o que fazer,
como a revisão completa da suspensão, que teve apenas as peças mais
comprometidas substituídas e os pneus, emprestados do Del Rey.
Marginais do Tietê e Pinheiros
percorridas sem problemas em plena tarde de segunda-feira e já estávamos estacionando
a Belina em nossa garagem com a satisfação de ser aprovada em mais um teste,
desta vez há 2.030 metros de altitude.
E que venha a próxima!
Nossos agradecimentos às empresas que
apoiam o nosso projeto:
Indústrias Arteb, Gauss Ind. e Com.
Ltda; Mastra Escapamentos e Catalisadores e Viemar Automotive.
De acordo com a evolução do projeto
iremos atualizar as notícias sobre a trajetória da Belina Rota do Asfalto.
Até breve
Wagner Coronado
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